quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Relatório do projeto Diferentes na cor, unidos pelo amor.- Fábia Lima

RELATÓRIO

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele,
por sua origem ou ainda por sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender;
e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

Nelson Mandela


A criança, entre 4 e 5 anos de idade, vive uma fase de descobrimento do seu eu, questionando também tudo ao seu redor. Por isso, é demasiadamente importante que, nesta fase, sejam trabalhados a identidade e o conhecimento acerca da cultura africana e do negro.
Se a educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança, por que não começar nessa fase o trabalho com a problemática racial no cotidiano escolar? Consideramos essencial trabalhar esta questão, visando melhorar a auto-estima da criança negra em seu convívio social.
É no cotidiano da Educação Infantil que visualizamos as conseqüências dos meios sociais e familiares, os quais influenciam e mostram que a questão racial precisa sim ser problematizada e desmistificada. Isto porque as crianças começam a se constituírem como sujeitos a partir da assimilação do que a sociedade e a família são.
Pensando assim é que foi construído o projeto “Diferentes na cor, unidos pelo amor” tendo como objetivo principal contribuir para que os alunos construam o senso de uma sociedade igualitária, em que pessoas de etnias diferentes não sejam discriminadas.
O projeto foi desenvolvido nos meses de Fevereiro a Maio de 2011 no Centro de Educação Infantil Casulo Menino Deus, situado na Rua Gercino Coelho s/n- no Centro de Riacho de Santana-Ba.

Durante o decorrer do projeto trabalhado, pudemos ressaltar o quanto foi prazeroso a compreensão dos alunos em todas as atividades desenvolvidas.
Na primeira semana, observamos o comportamento individual de cada aluno no que diz respeito a valores, com a análise desses comportamentos foi criado o Cordel das diferenças, um cordel de 20 estrofes criado nos momentos de descontração a partir das observações e comportamentos dos alunos, abordando as diferenças e valorizações de cada um.
O cordel foi trabalhado com os alunos e durante sua leitura eles se identificavam falando sobre si e sobre o colega.
Foi trabalhado também o livro “Na minha escola todo mundo é igual” de Rossana Ramos. Livro que conta a história de uma Escola onde todos eram e, de tal modo, se sentiam iguais, cada um tem seu jeito. O lugar onde aquele que não tem braço consegue escrever; onde o que não escuta e se comunica bem; onde o mudo se faz entender; e o que está em cadeiras de rodas pratica esportes; e o que não enxerga identifica as pessoas pela voz.
Sabemos que o nome é a identidade primordial de todo ser humano. Para trabalhar esse aspecto, foram confeccionados crachás de identificação, e, usando a música “Quem é você” foi passada uma caixa surpresa (contendo o nome de cada aluno) com os alunos em círculo, e, quando a música parava, quem estivesse com a caixa na mão pegava um nome de dentro para identificar quem era.
Com o mesmo objetivo de enfatizar a identidade pessoal, cantamos a música “meu barquinho”, em que cada criança escolhia um nome de colega para colocar no barquinho, enfatizando que todos nós temos um nome que é nossa identidade.
Para falar da importância de cada um, foi trabalhada a música “Coleguinha como vai”, mostrando a importância individual de cada um como ser humano para manter um espaço de sociabilidade.
Foi trabalhada também, e com bastante sucesso, o que chamamos de “dinâmica do espelho”. Em que uma caixa de papel foi enfeitada e, no fundo dela, foi colocada um espelho. O professor abre a caixa e ao observar o presente que está dentro, instiga os alunos a descobrirem o que há na caixa. Cada aluno é convidado a ver o que há na caixa. É importante que a criança não comente com os colegas o que viu. À medida que as crianças se vêem no espelho, sentem uma enorme alegria. Aí, foi o momento oportuno para trabalhamos a auto-estima e o valor de cada um para o outro tanto na própria sala de aula, como na família e na sociedade.
Outra dinâmica marcante foi a Dinâmica das flores, em que foram levadas flores de diferentes cores e formas para a classe de modo que cada aluno escolhesse uma. Depois, foi perguntado a cada um o que lhe chamou a atenção para escolher aquela flor específica. Várias observações surgiram: as diferentes cores, o perfume, a textura, as diferentes formas... então chamamos atenção para o fato de as flores serem diferentes e nem por isso menos bela e apreciada. Depois, foi pedido que olhassem uns para os outros. E, assim como viram nas flores, observaram que cada um é diferente, mas não menos importante, que muitas coisas variam também: cor e tipo de cabelo, formato e cor dos olhos, tamanho do nariz, altura, cor da pele etc., mas que isso não os faz menos belos, ou menos apreciados.
Foi mostrado o vídeo da música “Aos olhos do pai” (da Cantora Ana Paula Valadão)  que fala sobre as diferenças que cada um possui, e, em seguida, foi desenhado o corpo de um aluno no papel metro, para então falarmos sobre a importância de todos eles e de cada um em nossa vida.
Os alunos ficaram encantados com a canção, a mesma foi lembrada durante todo o projeto e cantada por eles.
Seguindo o mesmo embalo foi trabalhada a Música “Você é especial”, de Aline Barros, passada no som para ouvir a melodia, foi exposta a letra da canção no quadro, e feita à leitura coletiva. Após cantarmos, os alunos fizeram o texto lacunado da música. Foram colocadas palavras da música dentro de uma caixa, e, com os alunos em círculo, era passada a caixa ouvindo a canção, quando parava, o aluno retirava  de dentro da caixa uma palavra para leitura, todos grafavam as palavras retiradas no quadro para indicação de quantidade de letras que cada uma possuía. Foi construído também um painel com os nomes dos alunos na música.
Foram registrados em um livrinho nossos pensamentos relacionados com o ser diferente, construindo assim o livro Diferentes na cor, unidos pelo amor”. Os alunos recortaram de revistas imagens de pessoas que se identificavam e, observando suas características, iam colando, escrevendo seu nome.
Outro dia marcante, foi a construção da “árvore das boas relações”, mostrando como devemos agir com o outro e em determinadas situações. Grafamos os nomes dentro das frutas e colamos na árvore, enumerando as frutas.
A arte com as mãos esteve presente em todo tempo (construímos a árvore usando as mãos de cada criança como folhas) na confecção de origamis, pinturas, desenhos  atividade com tinta, foi um sucesso! Outra árvore que não poderia ficar de fora foi a da Família, mostrando os valores na sociedade.
As parlendas deram um apoio importante ao projeto, foram trabalhadas algumas delas, tais como: Macaca Sofia, Jacaré com catapora, Um dois, a Rata Rita, Joaninha, Fui á feira, A foca, Eu vi o sapo, gatinha parda, sapo jururu, Casinha, alecrim, papagaio louro, borboletinha, o bode, diferente.
Visitamos o sítio na construção da maquete, com vários tipos de animais, listamos todos eles, expondo no quadro para leitura coletiva. Exploramos o meio ambiente, natureza, clima, solo, frutas, animais, alimentação, o tipo de vida na zona rural.
Na imaginação da criança, os contos não podem ficar de fora e foi na história    “os três porquinhos” que enfatizamos os diversos tipos de moradia ilustrando em desenho, recontando com as crianças de forma lúdica, diferentes tipos de casa, a importância da união. (Origami dos porquinhos e da casa- colagem e pintura ). Em seqüência, foi trabalhada a música “Era uma casa” de Vinícius de Morais.
Durante o projeto, a saúde não foi deixada de lado, foi focada a prevenção  sobre o a dengue, construindo  um livrinho combate a dengue com diversos tipos de colagem, falando sobre a prevenção contra o mosquito. Construímos desenho do mosquito em cartaz, acróstico sobre a dengue, musica xô dengue, construção de panfletos, frases de alerta, maquete de prevenção mostrando os principais sintomas, maquete da escola sobre dengue, músicas falando da prevenção contra o mosquito, paródias da professora Fábia Lima.
Cantar é uma expressão de encanto, e todas as músicas trabalhadas no projeto foram colocadas no painel gigante “canto e encanto!”
E, nesse mesmo encanto, trabalhamos histórias infantis que tratam da questão do meio ambiente; como João Jiló e João e o pé de feijão, que foram ganchos cruciais no trabalho da alimentação saudáveis e preservação do meio ambiente.
Como os pássaros, animais e plantas têm suas diferenças assim também ocorre com os seres humanos. Aproveitamos a oportunidade para deixar que
 os alunos recontassem a história utilizando à escrita e o desenho; em seguida foram expostas fotos que demonstrassem a degradação do meio ambiente;
Deixamos que os alunos da classe se observassem e analisassem as diferenças entre eles, levando em consideração os tipos de cabelo, as cores dos olhos e da pele, os formatos dos narizes e dos lábios, e as alturas. As próprias crianças chegaram à conclusão que “Todo Mundo é Diferente”.Qual é a sua cara? (Em duplas: Desenharam os rostos e compararam as semelhanças e diferenças).
A música “Olhos coloridos” de Sandra de Sá fez com que os alunos observassem e analisassem mais uma vez as diferenças entre eles, levando em consideração os tipos de cabelo, as cores dos olhos e da pele, os formatos dos narizes e dos lábios, e as alturas...
Foi montado um mural com figuras de crianças do mundo inteiro, das diversas religiões, etnias, como se vestem e como são diferentes. Aproveitamos para falar sobre os tons de pele que aparecem nas crianças espalhadas pelo mundo. Neste momento, pudemos falar sobre a importância de diversas culturas, da riqueza cultural dos diversos continentes, enfatizando o africano e sua influência na nossa cultura. Para tanto e pondo fim essa atividade, a música Amor Universal de Pataty Patatá foi chave de ouro.
A execução deste trabalho nos ensinou a conhecer o quanto as diferenças nos aproximam e nos completam, aprendemos o quanto a natureza nos mostra pluralidades e nos torna singulares. As digitais se tornam únicas quando unimos as mãos e aceitamos as diferenças.
O resultado dessa experiência vivida no Centro de Educação Infantil Casulo Menino Deus pode possibilitar aos alunos a satisfação de se visualizar e, mais importante que isso, se sentir num espaço onde realmente todo mundo é igual, apesar das diferenças. Por mais pretensioso que parecesse o objetivo cunhado no início do trabalho, ele se materializou. E a concepção de uma educação inclusiva pode ser trabalhada frutiferamente. Aprendemos juntos – professor e alunos – quão importante é o respeito à singularidade do outro para um espaço real de sociabilidade!
 “ Aos olhos do Pai, você é uma obra prima, que Ele planejou, com suas próprias mãos pintou. A cor de sua pele, os seus cabelos desenhou, cada detalhe num toque de amor!”

Professora Fábia Simone de Oliveira Lima, Pedagoga pela Universidade do Estado da Bahia, professora da Educação Infantil III no Centro de Educação Infantil Casulo Menino Deus, Rua Gercino Coelho, S/N- Riacho de Santana- BA.

Projeto Difrentes na cor, unidos pelo amor.